quinta-feira, 7 de novembro de 2013

The Rape of Europe



The Rape of Europe reúne obras de 50 artistas vinculados as Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa (FBAUL), Portugal, Faculty of Visual Arts and Design at the HKU, Uthrecht/Holanda, Facultat de Belles Arts de la Universitat de Barcelona, Espanha, Akademia Sztuk Pieknych, Lodzi/Polônia, e Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IA/UFRGS).
As exposições resultam de uma parceria entre estas cinco instituições de ensino de artes, coordenada pela FBAUL, que busca trazer e ressignificar os encantos e dramas do mito de criação do continente europeu neste conturbado momento. Cada artista curador convidou um outro professor e estudantes de sua intuição de ensino para o desafio de realizar obras de gravura e/ou instalações gráficas a partir do mito. As obras, exibidas simultaneamente nas cinco cidades participantes, ao término das exposições, passam a integrar o Acervo Artístico Institucional.
No IA/UFRGS, participam do projeto as professoras Maristela Salvatori (curadora no Brasil) e Maria Lucia Cattani e os estudantes e egressos do IA/UFRGS Jander Rama,  Kárin Meneghetti, Flavya Mutran, Nara Amelia, Denis Nicola, Rafael Pagatini, Alice Porto e Ana Cândida Sommer.
A exposição fica aberta à visitação de 4 a 22 de novembro de 2013, na Sala João Fahrion/Reitoria da UFRGS.



Sala João Fahrion, Reitoria da UFRGS, Porto Alegre.

MS, Origens VI, Gravura em metal




Sala de Exposiciones de la Facultad de Bellas Arts de la Universitat de Barcelona.

Sala João Fahrion, Reitoria da UFRGS, Porto Alegre.

Com Tânia Moura e Jovita Sommer
Arquitetas Renata Rizzotto, Elena Salvatori e jornalista Célia Ribeiro

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

60 ans: Galerie du Haut-Pavé


De 12 a 18 de outubro a Galerie du Haut-Pavé abre suas portas para festejar seus 60 anos. Maristela Salvatori, que realizou exposição na Galeria quando vivia em Paris, durante a realização de seu doutorado, foi convidada a participar desta celebração onde os artistas realizarão intervenções nas paredes da galeria segundo o princípio de um “cadavre exquis dévoilé” - uma participação colaborativa que pretende marcar a ligação e carinho de seus artistas com esta Galeria e dar impulso a sua atuação nos próximos anos.
Fundada em 1953 sem fins lucrativos, a Galerie du Haut-Pavé está localizada no coração de Paris e tem por vocação descobrir jovens artistas representativos de diferentes correntes e tendências da arte contemporânea.
Desde sua criação tornou-se um lugar aberto a artistas então desconhecidos, pouco ou mal conhecidos, tendo exposto artistas como Arman, Arpad Szenes ou Olivier Debré, entre tantos outros, e recebido apoio de artistas reconhecidos como Dufy, Matisse ou Soulages.
Este local diferenciado, sustentado por artistas e amadores de arte, ao longo dos anos, novas gerações de artistas de diversas nacionalidades encontram nela a possibilidade de uma primeira exposição e local privilegiado de experimentação.
A Galeria, situada à beira do Sena, em frente à igreja de Notre-Dame, permanece aberta em horário comercial.
http://artalog.net/gallery/gallery.php?id=208
http://www.haut-pave.org/exposants/inside/Estampes99.html#1
http://www.haut-pave.org/abc.html
Maristela Salvatori& Frédéric Ravel, Galerie du Haut-Pavé, 1999

Maristela Salvator, Fotogravura em polímero, 29,5 x 42,4 cm, 2012







 com Christine Roux, presidente em 1999.


mmC: mínimo múltiplo comum

Mínimo múltiplo comum surgiu para equacionar uma matemática difícil, conjugar interesses, metragens e tiragem. Constituiu um lugar de  trégua, uma ferramenta operacional, um espaço para realizar um trabalho múltiplo ou transpor uma a ideia de múltiplo.
Editado em Porto Alegre, com múltiplos de Alice Porto, Bethielle Kupstaitis, Flavya Mutran, Janaina Rodrigues, Kelly Wendt, Lívia dos Santos, Márcia Sousa, Maristela Salvatori e Roseli Nery, em julho de 2013, no decurso do Laboratório de Pesquisa em Processos Reprodutivos do Programa de Pós-graduação em Artes Visuais do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sob orientação de Maristela Salvatori.

O grupo no IA/UFRGS.



Na exposição no Museu de Artes Visuais Ruth Schneider, em Passo Fundo.






sábado, 16 de março de 2013

FBAUL: Paisagens Mestiças



A exposição Paisagens Mestiças de Maristela Salvatori, atividade paralela ao CSO’2013, ocorre no âmbito de um ciclo de intercâmbio entre artistas portugueses e brasileiros na Capela da Faculdade de Belas-­Artes da Universidades de Lisboa, Largo da Academia Nacional de Belas-Artes, 1249-058 Lisboa, Portugal.  Apoio: Ministério da Cultura do Governo Federal do Brasil. 


As paisagens mestiças de Maristela Salvatori

A maioria das crianças tem a percepção de que tudo a sua volta é grande, de que as distâncias são longas e de que os edifícios são colossais. Elas agem como os adultos: mensuram o mundo a partir de seu tamanho. Imaginemos essas mesmas crianças anos depois, já crescidas: provavelmente se surpreenderão ao constatar que certos caminhos da infância, tão vastos na lembrança, são, na verdade, curtos, e que o interminável corredor da casa dos avós não tinha mais que uns poucos metros... Um dos aspectos que mais instigava Maristela Salvatori, quando menina, era justamente a dimensão de algumas construções arquitetônicas e o seu diálogo com a paisagem natural, que lhe provocava curioso maravilhamento. Dependendo do ponto de vista que lançava a esses panoramas, sentia como se pudesse tocar no horizonte, ou como se fosse engolfada pelos prédios. O fascínio pelo espaço e, sobretudo, pela relação que estabelecemos com ele, é elemento central da poética da artista brasileira, que há mais de três décadas se dedica ao estudo e ao ofício da gravura em metal.

Acompanhando a trajetória de Maristela, é interessante observar como, no início, a figura humana ainda persistia em suas composições, diminuta e deslocada. Com o tempo, foi totalmente suprimida, permanecendo tão somente o espaço: grave, silencioso, desertado. Hangares, arsenais, armazéns portuários e estações de trem são alguns dos motivos mais recorrentes em seu trabalho, mas sempre despovoados. Alguns comentaristas já apontaram a proximidade dessas imagens com a atmosfera melancólica da Paris registrada por Eugène Atget (1857–1927), onde a presença humana se dá, quando muito, fantasmagoricamente. Assim como Atget, Maristela passa ao largo das grandes vistas e dos monumentos característicos e, assim como ele, apresenta-nos fragmentos muito íntimos de seu percurso pelas cidades. Entre suas gravuras recentes, uma representa a vista que tinha de seu apartamento em Québec, Canadá, onde há pouco tempo realizou Estágio Pós-Doutoral. E o que temos diante dos olhos, sumariamente: casarios justapostos com janelas, marcados por íngremes telhados e algumas chaminés. Em outra imagem, ruínas de um templo católico na Guatemala, com as cúpulas vazadas, sugerindo a dialética entre cultura e natureza. E, em uma terceira, abóbadas e arcadas do Château Frontenac, em Québec. Nenhum vestígio natural ou dinâmico, nenhuma presença vegetal ou animal. Desprovidas da presença humana, essas construções são, todavia, resultado da criação humana. Nelas, portanto, reside o humano, estático e silente. Nesses cenários fixos, de luz estudada, composição rigorosa e foco extenso, como não considerar que algo misterioso está prestes a acontecer? Como não sentir presenças latentes na ausência inconteste?

Paris, Veneza, Québec, Oaxaca, Lisboa, São Miguel das Missões, Porto Alegre: difícil reconhecer essas cidades nas imagens apresentadas... O que Maristela nos traz são paisagens subjetivas, relacionadas a suas vivências ou que, de alguma maneira, evocam suas memórias. Suas gravuras e monotipias partem de fotografias, realizadas pela própria artista ou extraídas de jornais e revistas. E a fotografia, como nos lembra Luiz Carlos Felizardo, é resultado de um todo indiscriminado, a partir do qual o autor estabelece suas seleções, dele subtraindo suas imagens, gerando significados às vezes novos, ainda inexistentes, para os fragmentos resultantes. Operação contrária à do pintor, à do gravador e à do desenhista, que tradicionalmente criam diante de uma superfície descarnada. Tomando o exposto, é interessante examinar como Maristela dialoga com as duas tradições.

Para ela, a fotografia é tomada como referência. Nesse sentido, é também matricial. Quando necessário, valendo-se de recursos digitais, a artista elimina o que não lhe interessa, a exemplo da vegetação e da presença humana. Estabelece, deste modo, novos cortes, mas respeita o enquadramento que remete ao formato mais tradicional e acessível da fotografia, o 35 mm. Também reprocessa as cores, vertendo-as para uma paleta de cinzas e pretos. Antes de ser gravada, a imagem passa por novos estudos e edição: alguns elementos são simplificados ou excluídos, enquanto outros, considerados mais relevantes, são ampliados. Maristela dificilmente conserva a proporção dos edifícios e espaços fotografados, destacando-os pela projeção perspectiva. Arcos, telhados, escadas, paredes, pilares e componentes estruturais e arquitetônicos ganham amplitude, que via de regra os desnaturaliza, estabelecendo particulares convenções de representação e propondo ao espectador novos hábitos perceptivos.

Nesse rol, uma pergunta lícita seria: por que gravura?  E uma conjectura igualmente lícita, a partir do postulado no parágrafo anterior, é que a gravura permite uma depuração maior, bem como uma ampliação das potências significantes do que e do como é representado, graças aos apagamentos realizados, às proporções dilatadas e à luz vigorosa, que densifica as áreas de sombra e fomenta a tensão acerca do que, na superfície, coloca-se como tema das obras. Por outro lado, ao recorrer aos materiais e aos procedimentos da gravura, mesmo que busque representar formas angulosas com uma geometria projetiva aparentemente acurada, a hesitação das linhas e o desencontro entre as mesmas prevalecem, franqueando o gestual. Esse caráter é evidente nos polípticos em monotipia, precisos na configuração de grade e imprecisos nos encaixes entre as partes. Justapostas, as monotipias estabelecem um conflito entre o apelo figurativo do conjunto e a essência abstrata de cada um dos segmentos. Elas escancaram a edição e o aspecto de invenção do trabalho. Mais recentemente, escancaram a própria matriz fotográfica, quando a artista substitui uma das lâminas por uma fotografia em preto e branco, também ela excerto de uma imagem maior, cujas linhas e texturas se confundem com as impressões. A grade estruturante dessas monotipias, portanto, notabiliza o fracionamento, a montagem, o artifício, a natureza indicial da poética de Maristela.

Os cruzamentos entre as tradições da fotografia e da gravura em metal ganham nova corporeidade nas fotogravuras, que a artista passou a desenvolver no Canadá. Conhecida como “gravura não tóxica”, essa técnica lhe permite explorar o “grão da imagem”, caro ao vocabulário e ao imaginário da fotografia, notadamente da fotografia química. O resultado revela-se em composições de textura suave e luz sussurrante, que apontam outros desdobramentos, distintos dos verificados nas imagens calcografadas pela água forte e pela água tinta. Se, nessas últimas, o traço sobre a placa de cobre e o uso de agentes corrosivos parecem querer assegurar a permanência do que é representado, nas gravuras em polímero a transitoriedade é reforçada pela atmosfera etérea dos tons em cinza e prata.

Mesclando procedimentos tradicionais e tecnologias digitais, sobrepondo ou justapondo recursos, Maristela Salvatori coloca-se como uma artista-pesquisadora de fato. As paisagens mestiças que nos apresenta sugerem não apenas as suas paisagens internas, mas as etapas de instauração do trabalho artístico, revelando a sua compreensão das relações que amarram os processos, bem como a constância e a maturidade de sua reflexão.

Paula Ramos
Crítica de arte, professora-pesquisadora do Instituto de Artes da UFRGS.
Porto Alegre, fevereiro de 2013.

http://www.fba.ul.pt/paisagens-mesticas-exposicao-de-maristela-salvatori/







                   Abertura com prof. Luís Jorge Gonçalves, diretor da FBAUL. Foto: Flavya Mutran
 com João Paulo Queiroz, coordenador do CSO’2013


 em primeiro plano Nuno Sacramento
professor Luís Jorge Gonçalves, diretor da FBAUL

 com Alfredo Nicolaiewsky , diretor do IA/UFRGS, e Paulo Gomes



com Josep Montoya, Angela Grando e Almerinda da Silva Lopes



 com Maria do Carmo Veneroso e Alexandra Ramirez



com Joanna Latka, Paula Almozara, professor Luís Jorge Gonçalves, diretor da FBAUL e Andrea Brandão
 


A Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa situa-se no Chiado, ocupando parte do que foi o antigo Convento de São Francisco, de 1217. Recentemente restaurada, sua Capela, de grande beleza e luz, apresenta um altar com detalhes em granito e azulejos de períodos diversos. Foto: Flavya Mutran.
Foto: Flavya Mutran.